Dia do Enfermo

Dia do Enfermo 

Imagem: Shutterstock

A data comemorativa ao dia do enfermo foi criada por iniciativa do Ministério da Saúde, em 2002, em uma tentativa de sensibilizar profissionais de saúde e população em geral para a necessidade de todos os tipos de cuidados especiais que as pessoas doentes precisam receber, em ambientes hospitalares ou domiciliares. Existe ainda a comemoração internacional no dia 11 de fevereiro, criada em 1992 pelo papa João Paulo II.

A doença ou enfermidade é a condição no corpo humano resultante da desarmonia; é o desequilíbrio entre indivíduo e meio ambiente, podendo surgir como consequência ao significado que se dá aos estressores do cotidiano.

Na enfermidade o homem sente-se impotente, pois experimenta um sentimento de finitude e sente-se próximo da morte. Diante dessa condição o ser humano, muitas vezes, desespera-se, isola-se e revolta-se contra Deus. Para alguns, no entanto, estar doente representa uma oportunidade para refletir sobre o que é essencial e aproximar-se mais do Pai celestial.

O homem, às vezes, tem um corpo físico em pleno funcionamento, mas a mente e o espírito estão doentes. A doença, muitas vezes, resulta do esquecimento de si mesmo, podendo ser fruto do próprio doente, resultado de sua tristeza, da perda de sentido para a vida.

 A vontade de Deus era de que o ser humano não passasse por sofrimentos, pela morte. Ele o criou para a vida em abundância. Não foi Deus que criou a doença. Todo sofrimento que existe na terra é fruto das escolhas da espécie humana.

A tentativa de explicar o sofrimento humano vem desde o Antigo Testamento. No capítulo três do livro do Gênesis o sofrimento foi associado ao pecado, desde a desobediência de Adão e Eva. A partir daí a morte passou a fazer parte da realidade de homens e mulheres.

Como exemplo das escolhas erradas da raça humana causadoras de sofrimento estão a violência, a fome, a guerra, os acidentes causados por negligência e irresponsabilidade, a poluição, o abuso de álcool e drogas, a ignorância e superstições, as injustiças sociais, sentimentos ruins, como culpa, ódio, rancor e desejo de vingança. A decisão de seguir a Jesus Cristo também traz dores e sofrimentos, pois não há Cristianismo sem cruz. Pelo Seu sacrifício na cruz, Jesus deu aos padecimentos humanos um novo sentido: a salvação, a vida eterna junto ao Criador.

 

Afinal quem é o doente?

Pode ser alguém que trabalhava e que, de repente, perdeu a saúde, retirando-se bruscamente do mercado de trabalho; que está inseguro com a sua situação atual, sem saber o que tem e qual será o desfecho de sua doença. Uma pessoa que está deixando para trás seus amigos e familiares para internar-se em um ambiente desconhecido e de pessoas igualmente estranhas. Era um empresário, um médico, alguém que tinha um papel na sociedade e agora é apenas o doente do quarto X, ou da cirurgia Y. O enfermo é um ser humano que passa a ser visto apenas pela sua doença.

 

 Em sua fragilidade o doente pode lançar mão de alguns comportamentos-padrão como forma de defesa:

  • Sublimação: fala palavras agressivas ou inconvenientes em vez de agredir fisicamente as pessoas;
  • Projeção: projeta para os outros seus próprios desejos e anseios;
  • Deslocamento: transfere um afeto para um animal, objeto ou pessoa estranha;
  • Conversão: transforma perturbações emocionais em transtornos fisiológicos.

Cabe, portanto, aos que cuidam do enfermo, ter paciência para suportar muitas vezes comportamentos inadequados, manifestados como escape à impotência mediante sua doença.

 

A religiosidade, conforme venho expondo em minhas obras junto à Editora Santuário (Medicina e Espiritualidade, Saúde e Oração e A Busca da Felicidade pela Fé), tende a atenuar este quadro, na medida em que reforça a ideia de que existe alguém maior exercendo tal controle, da melhor maneira possível para este indivíduo. Além dos cuidados médicos necessários a cada doença, é importante o doente colocar-se nas mãos de Deus, sem preocupar-se excessivamente com o futuro. Além disso, existe toda uma rede de apoio social ao enfermo praticante de uma religião, com visitas ao hospital e/ou a domicílio, auxílio à família, conforto espiritual e psicológico, dentre outras coisas.

Um exemplo prático desse tipo de apoio é a unção dos enfermos, ministrada pelos presbíteros da Igreja Católica. Trata-se de um sacramento de cura, que tem por finalidade conferir ao cristão uma graça, quando ele passa por risco de morte ou pelas dificuldades da velhice. Antes do século X era ministrado a todos os doentes, crônicos ou não. Após o século X restringiu-se aos doentes moribundos, recebendo a denominação de extrema unção. Com o Concílio Vaticano II mudou-se novamente tal concepção, sendo conferida a idosos e doentes graves ou antes de procedimentos cirúrgicos de risco. Tal sacramento, ministrado pelo padre ou bispo, que unge as mãos e a fronte do doente com óleo de oliveira ou de outra planta, rezando oração apropriada, com rito específico para a ocasião, pode ser ministrado novamente ao doente em caso de agravamento de sua enfermidade. Na ocasião, poderá ser feita a confissão, caso o doente tenha necessidade e condições para tal; bem como poderá ser ministrada a sagrada Eucaristia. A unção dos enfermos tem como efeitos:

  • A união do enfermo com a paixão de Cristo, para seu bem e da Igreja;
  • A força necessária para suportar as dificuldades impostas pelo envelhecimento e pela doença;
  • O restabelecimento da saúde, se for da vontade de Deus, de acordo com Seu plano salvífico;
  • A preparação para a páscoa do enfermo, quando a cura não é mais possível.

 

O que podemos dizer a quem está gravemente enfermo?

Não diga que é da vontade de Deus: isso não alivia o sofrimento, podendo até alimentar a revolta em relação a Deus;

Diga ao doente que o sofrimento é inerente ao ser humano: até Cristo sofreu, mas deu ao sofrimento um significado jamais pensado anteriormente a Ele. Lançou a semente de Seu santo Corpo e de Seu Sangue derramado para semear a vida e deu-nos vida em abundância.

Diga ao enfermo que seu sofrimento não é em vão: e que poderá oferecê-lo em oração, pedindo pela salvação de sua família, sua alma e de toda a humanidade.

 

O que nos diz o Papa Francisco sobre o dia do enfermo?

Em 26 de Novembro de 2017, na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, no Vaticano, o Papa Francisco disse: “O serviço da Igreja aos doentes e a quantos cuidam deles deve continuar, com vigor sempre renovado, por fidelidade ao mandato do Senhor e seguindo o exemplo muito eloquente de seu Fundador e Mestre”. Em outro trecho o Papa fala que: Jesus encontrou muitas pessoas doentes no espírito e no corpo e a todos eles concedeu misericórdia e perdão. Aos doentes, concedeu também a cura física, sinal da vida abundante do Reino. Francisco destaca ainda a vocação materna da Igreja para com as pessoas necessitadas e os doentes. Fato que se concretizou, ao longo da história, em uma série riquíssima de iniciativas a favor dos enfermos. Ele diz ainda que essa história de dedicação não deve ser esquecida, continuando hoje, em todo o mundo. Portanto, médicos e enfermeiros, sacerdotes, consagrados e voluntários, familiares e todos aqueles que se empenham no cuidado dos doentes, participam dessa missão eclesial. É uma responsabilidade compartilhada, que enriquece o valor do serviço diário de cada um. A imagem da Igreja como “hospital de campo”, acolhedora de todos, é uma realidade concreta, já que, em algumas partes do mundo, os hospitais dos missionários e das dioceses são os únicos que fornecem os cuidados necessários à população.

O Pontífice chama a atenção ainda para a necessidade de preservar os hospitais católicos do risco de uma mentalidade meramente empresarial, descartando os pobres. Ao contrário, a inteligência organizativa e a caridade exigem que a pessoa do doente seja respeitada em sua dignidade e sempre colocada no centro do processo de tratamento. Essas orientações devem ser assumidas também pelos cristãos que trabalham nas estruturas públicas, onde são chamados a dar, por meio de seu serviço, bom testemunho do Evangelho.

Em seu discurso o Papa nos lembra que Jesus deixou, como dom à Igreja, seu poder de curar ao impor as mãos sobre os doentes (Mc 16, 17.18). Destaca a importância da pastoral da saúde, sempre firme em seus propósitos junto às comunidades paroquiais e dos inestimáveis cuidados prestados em família; segundo suas palavras: “um testemunho extraordinário de amor pela pessoa humana”.

Sem dúvida alguma, a enfermidade coloca o ser humano em situação de fragilidade e perigo para sua sobrevivência, mas também lhe possibilita um encontro pessoal consigo mesmo e com Deus. Se não for bem trabalhada pelo enfermo e por sua família a doença pode provocar profundas mudanças e desajustes na vida do indivíduo, contribuindo para seu isolamento social, sendo uma enorme fonte de ansiedade para todos.

Diz uma famosa sentença que o papel da medicina seria: curar algumas vezes, aliviar muitas e consolar sempre. Analisando friamente a realidade humana, concluímos que apesar dos avanços tecnológicos da medicina, não é possível prolongar indefinidamente a vida e, ainda hoje, é enorme o elenco das doenças incuráveis. Mas aliviar o sofrimento e consolar aquele que sofre está ao alcance de todos e é dever de todo cristão que leva a sério o Evangelho, como nos lembra o Papa Francisco.

Texto baseado na palestra “Quando a enfermidade bate à porta: auxiliando o doente e a sua família no processo de sofrimento”, ministrada nas Paulinas, João Pessoa.

Valdelene Andrade (farmacêutica, pediatra e escritora da Editora Santuário)