A arte de envelhecer!

Dia do Idoso

Imagem: Adobe Stock

Lembro-me de ter lido uma crônica sobre a velhice. Não era lá uma crônica muito otimista. Falava da dificuldade física e afetiva que sofremos todos com a chegada da idade. Quem negaria que a passagem do tempo nos deixa mais frágeis, debilitados, doloridos e limitados fisicamente? Ou que ousaria negar que os idosos são relegados ao segundo plano em muitas famílias e instituições? Mas isso que parece uma percepção tão real e dura da realidade enfrenta, justamente, a oposição madura e sadia dos testemunhos de quem aprendeu a envelhecer, e sabe colher, mesmo na velhice, os frutos reservados para este momento da vida. Por isso não quero aqui fantasiar sobre as belezas que a velhice pode trazer, mas apenas recuperar o sentido humano de uma candura e sabedoria que somente nos idosos podemos encontrar. Talvez, com isso, seremos capazes de reintegrar os envelhecidos na dinâmica de uma vida saudável e equilibrada. Em primeiro lugar, é preciso agradecer pela passagem dos anos. Em um contexto social de violências e mortes, em que muitos têm suas vidas ceifadas no auge da juventude, feliz daquele que vive muitos anos e os vive bem. Isso é uma percepção bem prática da vida. Aos que viveram muitos anos foi dado experimentar prazeres, sensações e, até mesmo, sofrimentos que, para muitos, foram negados, simplesmente porque morreram muito cedo. Acontece que viver muito pode ser razão para pelo menos duas situações, e aqui dependerá de cada um construir-se e educar-se ao longo da vida: podemos construir uma velhice equilibrada, ou, de outro modo, podemos nos descobrir como velhos e velhas ranzinzas e desgostosos de tudo e de todos. Qual a receita para que a velhice não seja um fardo a ser carregado? Penso que a velhice é resultado das escolhas da vida e por isso mesmo, cada idoso é responsável por seus próprios dramas e alegrias. Com isso não me engano ao tentar fazer da velhice algo puramente planejado: há situações que fugirão de nosso controle, sobretudo questões relacionadas com a saúde física e mental, ou, infelizmente, situações de abandono social por parte da família e do estado. Mas apesar desses dissabores que nos ocorrem sem que os procuremos, uma velhice pode ser muito bem vivida se for aceita como ela é – um tempo diferente da juventude, talvez limitado pela fraqueza física, mas certamente muito mais amadurecido pelas experiências da vida. Então, querido idoso (e querida idosa!), não se lamente por estar envelhecendo, antes saia da zona do conforto, do comodismo e do desânimo. Felizmente existem muitas iniciativas sociais que hoje abrem as portas para reintroduzir o idoso em atividades físicas, culturais e religiosas. Quantos idosos estão dentro de casa, lamentando-se e acumulando doenças, e que bem podiam estar participando de algum grupo de socialização, redescobrindo que é possível sorrir mesmo depois dos cabelos brancos e das rugas espalhadas pelo rosto. A expectativa de vida humana, graças aos avanços das ciências e das técnicas, deve aumentar significativamente nas próximas décadas. O mundo será cada vez mais dos idosos, e por isso mesmo, reposicionar nossa presença social depende da iniciativa dos que vão envelhecendo. Há coisas na vida que um jovem, por mais inteligente e robusto que possa ser, jamais entenderá. Não é por acaso que muitas sociedades depositam nos idosos a autoridade moral. Eles são verdadeiramente sábios. Infelizmente a sociedade da produtividade e consumo parece esquecer-se disso. Gostam de expor belos corpos e nos vende a ideia de que envelhecer é horrível. Não devemos comprar essas ideias. Envelhecer é uma arte, e tomara que cada homem e mulher, que completa aniversários, aprenda a contar sua vida não pela idade, mas pela capacidade de continuar vivendo bem e feliz!

por Padre Evaldo César de Souza, CSSR